segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

CULTURA: UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO

1. Cultura e o senso comum

Senso comum é a opinião dos indivíduos embasada nas relações sociais do cotidiano, sem nenhuma formulação científica. É enfim, o que as pessoas acham das coisas que as rodeiam. Nesse sentido, os sujeitos costumam usar a palavra cultura como se significasse acúmulo de conhecimentos sobre algum assunto. É comum ouvir frases do tipo: “fulano é um homem com muita cultura, pois fez três faculdades!”.
Nada mais falso que usar esta palavra nesse sentido.


2. Cultura e a ciência

A antropologia é a ciência que estuda as diferenças culturais entre os povos, portanto, é a partir dela que se deve olhar essa palavra. Segundo a ciência cultura é o conjunto de todos os costumes, crenças, valores e hábitos de um povo.

3. Características da cultura

• Todos os povos do mundo possuem cultura. Se cultura é o conjunto de costumes de um povo, não importa onde ele vive, se é rico ou pobre todos possuem cultura.
• Não existem culturas inferiores ou superiores. Toda cultura deve ser observada a partir dos olhos daquele que tem aquela cultura. Muitos hábitos que não fazem sentido para um povo fazem para outro. Aquilo que parece estranho e bizarro para um povo não o é para outro.
• A cultura é transmitida através das relações sociais da geração antiga para com a mais nova. Isto significa que todo ser humano nasce biologicamente apto a se socializar em qualquer cultura.
• É cultura tudo que for criado pelo ser humano. Desde prédios, casas, roupas, ciência, tecnologia, até danças, rituais, músicas, gostos...
• A cultura é algo exclusivamente humana. Os animais são incapazes de produzir cultura, pois não conseguem dar significado aos seus atos. Até mesmo as chamadas sociedades animais (formigas e abelhas) fazem seu trabalho por toda a vida porque seu dever está impresso em sua genética.
• A cultura é dinâmica. Conforme o tempo e o lugar ela será diferente. Nem pior, nem melhor, apenas diferente.

3.1. Diferenças culturais

As diferenças culturais ultrapassam aos costumes mais visíveis como religião, danças e comidas típicas. Estão presentes também em como as pessoas se movimentam ao andar, falar, paquerar até mesmo ao rir. Alguns povos são discretos ao acharem algo engraçado, outros são muito escandalosos... Podem variar também sobre o que se acha graça, os americanos morrem de rir quando atores em cena jogam tortas uns nos outros, os brasileiros adoram piadas relacionadas ‘a sexualidade e os japoneses muitas vezes riem em situações desagradáveis para serem educados.
Há uma história verdadeira que pode ilustrar bem sobre isso: “Uma jovem da Bulgária ofereceu um jantar para os estudantes americanos, colegas de seu marido, e entre eles foi convidado um jovem asiático. Após os convidados terem terminado os seus pratos, a anfitriã perguntou quem gostaria de repetir, pois uma anfitriã búlgara que deixasse os seus convidados se retirarem famintos estaria desgraçada. O estudante asiático aceitou um segundo prato, e um terceiro – enquanto a anfitriã ansiosamente preparava mais comida na cozinha. Finalmente, no meio do seu quarto prato o estudante caiu ao solo, convencido de que agiu melhor do que insultar a anfitriã pela recusa da comida que lhe era oferecida, conforme o costume de seu país.” (Roger Keesing)
Ainda que todos falassem a língua inglesa e estivessem conversando ‘a mesa, ter um costume diferente e não ser compreendido por causa dele é o mesmo que não falar o mesmo idioma e pretender uma convivência plena. A cultura é um conjunto de símbolos, signos e significados, todos os costumes, por mais naturais que pareçam são dotados de sentidos para um povo e não para todos.


HÁBITOS ALIMENTARES AQUI E EM OUTROS LUGARES

Reconhecer o caráter cultural e histórico dos hábitos alimentares do Cariri (Aracaju) está diretamente ligado a conhecer a história de seu povo e de sua formação. A alimentação espelha as crenças e o modo de vida das pessoas, como os mitos e tabus relacionados a alguns alimentos, que não têm uma origem certa, o que se sabe é que eles existem desde a época do Brasil-colônia e são passados de geração a geração.
A culinária sertaneja baseia-se na pecuária e nos gêneros agrícolas local. Alimentos da terra como: batata-doce, coco, milho e macaxeira, são muito utilizados no preparo de mungunzá, tapioca, cuscuz, pamonha, bolo de milho, canjica e pé-de-moleque, já o arroz e o feijão verde formam um fabuloso dueto chamado de baião-de-dois, com nata, piqui e queijo de qualho. Outro ingrediente famoso e sempre presente nas receitas é a carne de sol, usada no preparo da paçoca, e utiliza-se também o bode no preparo de buchada, panelada e sarapatel. Como acompanhamento ou apenas para degustar, temos o caldo-de-cana, sucos de frutas tropicais e até mesmo a deliciosa e apreciada “Cajuína”, refrigerante do suco de caju, made in Juazeiro do Norte. Como sobremesa tem a rapadura, doces de frutas, cocadas e outros mais.
China: Devido a sua grande extensão territorial, os hábitos e costumes alimentares variam de acordo com a região. Nas províncias centrais e do norte a comida costuma ser bem apimentada. No sul do país é comum comer gatos, cães e outros animais. Já no oeste e norte, a comida é mais simples, como macarrão e bolinhos feitos de farinha de trigo.
Religião: A influência das raças e religiões é marcante. Os muçulmanos e judeus não comem carne de porco e derivados, enquanto os hindus não comem carne de vaca. Muitos hindus são estritamente vegetarianos e outros consomem peixes e mariscos.



4. Aculturação

Ainda que muitos antropólogos tenham abolido o conceito de aculturação, pois compreendem que a cultura não é estática e, portanto, ela pode misturar-se com outras e se reinventar, continua sendo importante perceber que do contato entre culturas diversas algumas levam vantagem em relação às demais, tendo seus costumes como dominantes nessa reinvenção.
Em outras palavras, aculturação é quando duas ou mais culturas se encontram e uma acaba “vencendo” as demais pela força das armas ou da economia, por exemplo. Assim, quando portugueses chegaram ao Brasil formaram uma cultura diferente (a brasileira), formada por características culturais dos indígenas e dos africanos, entretanto, fica muito claro que a cultura portuguesa saiu como a hegemônica, como a dominante.

5. Grupos contraculturais

Em todas as épocas grupos de jovens colocam-se de maneira contrária aos costumes de seu tempo, contestando valores e comportamentos tidos como os mais corretos e “naturais”. Se determinado movimento contracultural for forte suficiente ele pode deixar uma herança comportamental para as gerações seguintes.
No Brasil, essa idéia de contracultura pode ser notada com o desenvolvimento do movimento hip hop. Embalados pelo som eletrônico e letras com rimas de denúncia, diversos jovens da periferia das grandes cidades absorveram um gênero musical estrangeiro para apresentar a miséria e violência que se espalhavam em várias cidades do país. Hoje, essa manifestação se diversificou e direciona a realização de diversos projetos sociais que divulgam cultura e educação.
A experiência contracultural tem uma importante função de rever os valores do cotidiano e dessa forma rascunhar outros possíveis caminhos para novos comportamentos sociais.
Nos EUA o movimento contracultural mais famoso foi o Hippie que propunha rejeitar o amor cego ‘a nação, ao trabalho alienante e a rápida ascensão social através do consumismo exagerado. Essa foi a época da guerra do Vietnã e o movimento Hippie posicionou-se contrário a guerra pregando o amor e o desenvolvimento de um mundo alternativo com mais liberdade e tolerância entre as pessoas.

6. Etnocentrismo
Todos os povos do mundo têm uma tendência por considerarem o seu modo de vida como o mais correto e mais civilizado, a isso a antropologia chama de etnocentrismo.
Isto acontece porque os povos fazem da sua visão de mundo a única possível, neste caso o “outro” transforma-se no grupo que é engraçado, absurdo, anormal ou incompreensível. Muitas vezes existe inclusive a associação de humanidade para o comportamento do próprio grupo e consequentemente a dúvida latente da humanidade do “outro”.
Foi exatamente isto que ocorreu quando os europeus encontraram os povos do novo mundo, os nativos das Américas eram tão diferentes deles que chegou a provocar dúvidas (não só nos marinheiros, mas nos grandes pensadores da época) em relação a existência de alma entre estes novos povos ou ainda se eram realmente humanos e não apenas algum tipo de animal que um dia viria a ser gente.
Por isto é fundamental relativizar. E relativizar é o ato de se colocar no ponto de vista cultural do “outro” e perceber o sentido de determinado costume. Ex: certa vez um missionário branco foi até uma tribo indígena e passou lá alguns meses, certa tarde um dos índios quis que o visitante lhe desse o relógio muito dourado que ele carregava no pulso. Sem saber o porquê daquele pedido, o missionário deu o relógio (ainda que fosse muito caro) e o índio muito satisfeito o pegou e colocou no alto de uma árvore muito alta da floresta, de maneira que quando o sol batia nele provocava um grande reflexo. Quando o visitante foi embora, chegou a sua sala de estar e pendurou na parede um imenso arco e fecha como lembrança dos meses que havia passado junto ‘aquele povo. Ora, relativizar é compreender que o que o índio fez com o relógio do homem branco significa o mesmo que a atitude do missionário ao colocar o arco em sua parede.
Se o exercício da relativização não acontece o etnocentrismo pode provocar todo tipo de conseqüências: guerras e torturas como no caso do nazismo que acreditava que a raça ariana era a mais pura; escravidão no caso dos europeus que subjugaram os africanos durante as Grandes Navegações; a simples imposição de uma cultura sobre a outra no caso dos EUA diante do resto do mundo.

6.1. Determinismo geográfico

No final do século XIX e início do XX algumas teorias desenvolvidas por geógrafos foram muito populares no mundo todo. Elas acreditavam que as diferenças do ambiente físico condicionavam a diversidade cultural.
Para comprovar o quanto estas idéias são falsas, basta apresentar como vivem os lapões e os esquimós. Ambos moram na calota polar norte, os primeiros no norte europeu e os segundos no norte da América. Vivendo em ambientes geográficos semelhantes teriam os mesmos costumes, entretanto, isto não é verdade, tendo em vista que, por exemplo, constroem casas diferentes, os lapões o fazem de peles de animais e os esquimós com blocos de gelo, além disso, os primeiros são criadores de renas e os segundos limitam-se a caçar os mesmos animais.

6.2. Determinismo biológico

É muito comum a idéia de associar certas características a determinadas “raças” ou a outros grupos humanos. Muita gente acha, por exemplo, que os nórdicos são mais astutos que os negros; que os alemães têm mais destreza para a mecânica; que os judeus são avarentos e comerciantes; que os norte-americanos são empreendedores e ambiciosos; que os portugueses são muito trabalhadores e pouco espertos, que os japoneses são ardilosos e cruéis; que os ciganos são nômades por instinto, e, finalmente, que os brasileiros herdaram a preguiça dos negros, a desleixo dos índios e a sensualidade dos portugueses.
Todos estes perfis de comportamentos não são determinados pela genética, tendo em vista que qualquer criança normal pode ser educada em qualquer cultura e passar a agir como qualquer um dos povos citados acima. Nem as atividades que acreditamos serem naturalmente femininas ou masculinas são originadas pela hereditariedade, tendo em vista que em muitos povos o que é tido como trabalho de homem para um povo e um trabalho de mulher para outra população.

7. Teorias antropológicas sobre a cultura

Foi durante as Grandes Navegações que os europeus entraram em contato com o novo mundo e com as mais diversas culturas e também foi no mesmo momento que surgiu uma nova ciência para tentar explicar essas diferenças. Surgia a Antropologia, que no início era fundamentalmente seguidora da teoria evolucionista, mais tarde passou por outras tantas.
O principal conceito do evolucionismo é de que as culturas deveriam ser comparadas entre si através de seus costumes. Ao tomar esta atitude teórica, os primeiros antropólogos classificaram as culturas como sendo selvagens ou civilizadas, primitivas ou complexas. Pensando desta maneira, as sociedades selvagens evoluiriam e um dia chegariam ao patamar daquelas que já estariam classificadas como evoluídas. Daí veio a idéia de que as sociedades européias (que era considerada por eles mesmos como civilizadas) tinham o dever de ajudar as demais a progredir, por isso, foi estimulado o ato de cristianizar e civilizar aqueles a quem eles chamavam de bárbaros. Pode-se dizer, portanto, que a antropologia em seu inicio apoiou a colonização do novo mundo.
Mais tarde percebeu-se que o evolucionismo não era a melhor opção para estudar a diversidade cultural. Pois cada cultura deve ser vista como única, que não há como comparar uma com outra, porque não pertencem a uma mesma linha histórica, portanto, conceitos como civilização e barbárie passaram a ser completamente inúteis, todos os significados dos costumes devem ser relativizados.













ATIVIDADES DO CAPÍTULO 3 - CULTURA
Nome: Nº turma:
1) A coerência de um hábito cultural somente pode ser analisada a partir:
a) do sistema a que pertence.
b) de um ponto de vista que seja exterior ao próprio hábito.
c) de uma descoberta casual que o revele em sua essência.
d) de uma inteligência superior.

2) Assinale a alternativa que indica o emprego correto do conceito de cultura para a antropologia:
a) a cultura diz respeito aos atributos imutáveis que singularizam um povo.
b) a cultura de um povo é determinada pelo meio natural.
c) a cultura é herdada biologicamente
d) a cultura é uma forma de expressão de tem origem simbólica.

3) Qual a importância dos grupos contraculturais para um país?
4) Sobre o etnocentrismo, considere as afirmativas corretas e assinale a alternativa adequada:
I – é um dos fenômenos que dá origem e sustentação ao preconceito.
II – consiste em repudiar as manifestações culturais que mais se afastam daquelas com as quais nos identificamos.
III – é possível perceber atitudes etnocêntricas em quase todas as sociedades.
IV – é um fenômeno que só existiu no período da expansão marítima.
a) apenas I e II estão corretas
b) apenas III e IV estão corretas
c) apenas I II e III estão corretas
d) todas estão corretas
5) O fato do homem ver o mundo através de sua cultura tem como conseqüência a propensão a considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. Essa tendência se denomina:
a) egocentrismo
b) heterocentrismo
c) heliocentrismo
d) etnocentrismo
6) O que diz o evolucionismo?
7) Qual o motivo para o evolucionismo não ser mais utilizado como explicação?
8) O que diz o determinismo geográfico?
9) O que diz o determinismo biológico?
10) O que é aculturação?

5 comentários:

  1. Respostas
    1. Porque mostra que a cultura ela não será sempre a mesma, podendo mudar de acordo com o acontecimentos que acorre com seus integrantes.

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